Fé Racional

"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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A Umbanda não é responsável pelos absurdos praticados em seu nome, assim como Jesus Cristo não é responsável pelos absurdos que foram e que são praticados em Seu nome e em nome de seu Evangelho. Caboclo Índio Tupinambá.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Espiritismo não faz Milagres



 De maneira racional a Doutrina Espírita esclarece os "milagres" de acordo com as leis naturais.

“(...) O Espiritismo vem, a seu turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis e explicar os fenômenos na alçada dessas leis”.[font]
Allan Kardec

Certa feita, um eclesiástico dirigiu a seguinte pergunta ao Mestre Lionês: “Todos aqueles que tiveram missão de Deus de ensinar a verdade aos homens, provaram sua missão por milagres. Por quais milagres provais a verdade de vosso ensinamento?” A resposta de Kardec não se fez esperar  /2/:

“(...) Confessamos – humildemente -, que não temos o menor milagre a oferecer; dizemos mais: O Espiritismo não se apóia sobre nenhum fato miraculoso; seus adeptos nunca fizeram e não têm a pretensão de fazer nenhum milagre; não se crêem bastante dignos para que, à sua voz, Deus mude a ordem eterna das coisas. O Espiritismo constata um fato material, o da manifestação das almas ou Espíritos. Esse fato é real, sim ou não? Aí está toda a questão; ora, nesse fato, admitindo como verdadeiro, nada há de miraculoso. Como as manifestações desse gênero, tais como as visões, aparições e outras, ocorreram em todos os tempos, assim como atestam as histórias, sagradas e profanas, e os livros de todas as religiões, outrora puderam passar por sobrenaturais; mas hoje que se lhes conhece a causa, que se sabe que se produzem em virtude de certas leis, sabe-se também que lhes falta o caráter essencial dos fatos miraculosos, o de fazer exceção à lei comum.

Essas manifestações, observadas em nossos dias com mais cuidado do que na antigüidade, observadas sobretudo sem prevenção, e com a ajuda de investigações tão minuciosas quanto as que se aplicam no estudo das ciências, têm por conseqüência provar, de maneira irrecusável, a existência de um princípio inteligente fora da matéria, sua sobrevivência aos corpos, sua individualidade depois da morte, sua imortalidade, seu futuro feliz ou infeliz, por conseguinte, a base de todas as religiões.

Se a verdade não fosse provada senão por milagres, poder-se-ia perguntar:

Por que os sacerdotes do Egito, que estavam no erro, reproduziram diante do Faraó aquilo que Moisés fez? Por que Apolônio de Tiana, que era pagão, curava pelo toque, devolvia a visão aos cegos, a palavra aos mudos, predizia as coisas futuras e via o que se passava à distância? O próprio Cristo não disse: "Haverá falsos profetas que farão prodígios"? Um de nossos amigos, depois de uma fervorosa prece ao seu Espírito protetor, foi curado quase instantaneamente de uma enfermidade, muito grave e muito antiga, que resistia a todos os remédios; para ele o fato era verdadeiramente miraculoso; mas, como ele acreditava nos Espíritos, um cura, a quem contou a coisa, disse-lhe que o diabo também pode fazer milagres. "Nesse caso, disse esse amigo, se foi o diabo que me curou, é ao diabo que devo agradecer."

Os prodígios e os milagres não são, pois, o privilégio exclusivo da verdade, uma vez que o próprio diabo pode fazê-los.

(...) Há no Espiritismo duas coisas: o fato da existência dos Espíritos e de suas manifestações, e a doutrina que disso decorre. O primeiro ponto não pode ser posto em dúvida senão por aqueles que não viram ou que não quiseram ver; quanto ao segundo, a questão é saber se essa doutrina é justa ou falsa: é um resultado de apreciação.

(...) Considerai o Espiritismo, se o quiserdes, não como uma revelação divina, mas como a expressão de uma opinião pessoal, a tal ou tal Espírito, a questão é saber se ela é boa ou má, justa ou falsa, racional ou ilógica. A que se reportar para isso? É ao julgamento de um indivíduo? De alguns indivíduos mesmo? Não; porque, dominados pelos preconceitos, as idéias preconcebidas, ou os interesses pessoais, podem se enganar. O único, o verdadeiro juiz, é o público, porque ali não há o interesse de associação.

Além disso, nas massas há um bom senso inato que não se engana. A lógica sã diz que a adoção de uma idéia, ou de um princípio, pela opinião geral, é uma prova de que ela repousa sobre um fundo de verdade.

Os Espíritas não dizem, pois: "Eis uma doutrina saída da boca do próprio Deus, revelada a um único homem por meios prodigiosos, e que é preciso impor ao gênero humano." Eles dizem, ao contrário: "Eis uma doutrina que não é nossa, e da qual não reivindicamos o mérito; nós a adotamos porque a achamos racional. Abribuí-lhe a origem que quiserdes: de Deus, dos Espíritos ou dos homens; examinai-a; se ela vos convém, adotai-a; caso contrário, ponde-a de lado."


Não se pode ser menos absoluto!

O Espiritismo não vem, pois, intrometer-se na religião; ele não se impõe; não vem forçar a consciência, não mais dos católicos do que dos protestantes, dos judeus; ele se apresenta e diz: "Adotai-me, se me achais bom."

É culpa dos Espíritas se o acham bom? Se nele se encontra a solução do que se procurava em vão alhures? Se nele se haurem consolações que tornam felizes, que dissipam os terrores do futuro, acalmam as angústias da dúvida e dão coragem para o presente? Não se dirige àqueles a quem as crenças católicas ou outras bastam, mas àqueles que elas não satisfazem completamente, ou que desertaram; em lugar de não mais crer em nada, os conduz a crerem em alguma coisa, e a crer com fervor.

Pergunta-se sobre que milagre nós nos apoiamos para crer a Doutrina Espírita boa. Nós a cremos boa, não só porque é nossa opinião, mas porque milhões de outros pensam como nós; porque ela conduz a crer aqueles que não crêem; dá coragem nas misérias da vida. O milagre?! É a rapidez de sua propagação, estranha nos fastos das doutrinas filosóficas; foi por ter, em alguns anos, feito a volta ao mundo, e estar implantada em todos os países e em todas as classes da sociedade; foi por ter progredido, apesar de tudo o que se fez para detê-la, de ultrapassar as barreiras que se lhe opôs; de encontrar um acréscimo de forças nas próprias barreiras. Está aí o caráter de uma utopia? Uma idéia falsa pode encontrar alguns partidários, mas nunca tem senão uma existência efêmera e circunscrita; perde terreno em lugar de ganhá-lo, ao passo que o Espiritismo ganha-o em lugar de perdê-lo. Quando é visto germinar por todas as partes, acolhido por toda a parte como um benefício da Providência, é que ali está o dedo da Providência; eis o verdadeiro milagre, e nós o cremos suficiente para assegurar o seu futuro.

(...) Em resumo: O Espiritismo, para se estabelecer, não reivindica a ação de nenhum milagre; não quer, em nada, mudar a ordem das coisas; procurou e encontrou a causa de certos fenômenos, erradamente reputados como sobrenaturais; em lugar de se apoiar no sobrenatural, repudia-o por sua própria conta; dirige-se ao coração e à razão; a lógica lhe abre o caminho”.


1- KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. XIII, item 4, § 1º.
2- KARDEC, Allan. Revue Spirite. Araras: IDE, 1993, p. 40 e seguintes.


            Por Rogério Coelho

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