Estamos
em tempos de guerra. Sim, guerra. Guerra contra uma série de coisas criadas por
nós mesmos, mas que não sabemos como enfrentar. Vimos com pesares jovens entrar
nas escolas e matar crianças inocentes e não percebemos que os culpados somos
nós mesmos.
Somos
nós que criamos a indústria do ódio, da intolerância... Somos nós que
consideramos normal qualquer situação que não ocorra embaixo de nosso nariz.
Afinal, o que acontece longe (pelo menos 200 metros) não vai nos atingir.
Reclamamos
de tudo, mas não fazemos nada para mudar. Acho que perdemos nossa força, a
prevenção, o cuidado... Quando eu era criança eu tinha o direito de brincar, de
estudar, até de trabalhar. Eu queria ser grande, ter responsabilidade, tal
quais meus pais. Eles eram e são meus ídolos. Cresci, ainda não sou pai, mas
quero ser melhor pai para os meus filhos do que os meus foram. Simplesmente por
uma questão de evolução.
Quero
cuidar, brincar, ler, estudar, ninar, alimentar... Quero ser pai de verdade.
Não somente aquela pessoa que gera, mas aquela que cuida, para que um dia, eu
não precise fazer estas perguntas ou ter de dar respostas a elas:
E se
os pais voltassem a brincar com seus filhos?!
E se
os pais voltassem a ficar com seus filhos?!
E se
os pais voltassem a ensinar seus filhos?!
E se
os pais voltassem a freqüentar as escolas de seus filhos?!
E se
as escolas voltassem a fazer o aluno raciocinar em vez de decorar?!
E se
as escolas voltassem a incentivar a prática esportiva?!
E se
voltassem às competições intercolegiais e interssala?!
E se
voltassem às aulas de Educação Moral e Cívica?!
E se
voltassem às aulas de OSPB?!
E se
o estudo da religião na escola não fosse atrelado à religião da escola?!
E se
as crianças de hoje tivessem ídolos como Ayrton Sena, Zico, Pelé e Garrincha?!
E se
a intolerância religiosa não existisse?!
E se
voltássemos à época em que Buylling era só brincadeira de criança?!
E se
a TV aberta voltasse a ter uns programas infantis?!
E se
as novelas não exibissem tantas cenas de sexo e violência?!
E se
os autores de novelas não mostrassem que ser ladrão e corrupto vale a pena?!
E se
os programas de TV voltassem a mostrar valores como família, respeito,
caráter?!
E se
as crianças tivessem seus direitos respeitados?!
E se
as crianças voltassem a subir em árvores?!
E se
as crianças voltassem a dormir ao som das histórias contadas por pais e avós?!
E se
as crianças voltassem a ser seres inocentes?!
E se
as crianças voltassem a brincar?!
E se
nós, adultos, deixássemos as crianças serem novamente crianças?!
São
muitas as perguntas, mas as crianças de Realengo não estarão mais aqui para
escutar a nossa resposta. A resposta de uma sociedade hipócrita e mentirosa,
que gera seus filhos e os entrega a própria sorte e que acredita que a
responsabilidade da educação de uma criança é restrita a professores.
Não
sei dizer que este assassino poderia agir de outra forma se tivesse outra
educação, mas as crianças da década de 80 conseguiam ir para a escola segura de
que voltariam para casa.
Nossa
sociedade está criando monstros e vê isso com espanto.
Educação
não é questão financeira. Educação é questão familiar, é apostar em conceitos
que os nossos avós ensinaram aos nossos pais. Mas... E se os pais voltassem a
ser pais?!
Por Martim Barbosa
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