Fé Racional

"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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A Umbanda não é responsável pelos absurdos praticados em seu nome, assim como Jesus Cristo não é responsável pelos absurdos que foram e que são praticados em Seu nome e em nome de seu Evangelho. Caboclo Índio Tupinambá.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Qual o Tempo e o Lugar da Morte?




Afinal, dentro de uma certeza tão absoluta, quais são os motivos que conduzem a humanidade ao medo, aliás, ao pavor, através do episódio da morte? Estaríamos focados, exclusivamente, ao fato que provoca o desenlace dos vínculos materiais? Ou a ação de morrer, simplesmente, evocaria a condensação simbólica de um estado rotineiro, porém, imperceptível, a um estado escolhido por cada um? Fenomenologicamente falando, a morte é o anúncio público da ausência de alguém, o fim biológico e o prenúncio para a inexistência. Há todo um lamentar, carregado de pesar e de uma desconfiança em relação ao sentido daquilo que foi e do que será a trajetória pela vida. Além disso, anuncia-se, de maneira geral, a ansiedade antecipatória em relação a uma próxima data, de um próximo sujeito e de uma repetição permanente dessa convivência. Uma íntima e vivaz relação que não se interrompe, jamais, por toda história antropológica do homem.

Não seria a morte, então, um mero acontecimento, com data, horário e situação, supostamente, indeterminados, marcando o término de uma jornada. Talvez esse seja o produto final, consequente, de um turbilhão de acontecimentos provocados pela nossa própria liberdade, condicional, que nos faz perceber, sentir, pensar e reagir ao mundo, exatamente de acordo com nosso estágio evolutivo. Refiro-me às atitudes, predominantes, adotadas pelas pessoas e observadas em seus modelos operantes de condução do próprio estado de vida.

A morte marca presença no instante do arrependimento, onde a culpa e o encarceramento ao passado se estabelecem. A vida encontra-se na reparação, humilde, que gera o benefício a todos os envolvidos e impulsiona o ser a continua sua caminhada. Pode ser vista na permissividade dominante que faz com quem esteja a sua volta invada limites, domine e controle, aprisionando o outro em sua visão de incapacidade e de insegurança, ao invés de adotar o espírito ativo e criador, contribuindo para os processos que lhe dizem respeito. Igualmente, morrer, passa pela ordem das fantasias e dos devaneios, quando se delega, aleatoriamente, a alguém, a alguma situação, ou a Deus, uma soberania intransferível, no sentido de sermos únicos responsáveis por aquilo que conduzimos e pelas escolhas que fazemos.

“Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma idéia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la.
Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais.

Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingénuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.”

 - Epicuro, in “A Conduta na Vida” - http://www.citador.pt/textos/a-morte-nao-e-nada-para-nos-epicuro

A morte deixa seus vestígios na frustração das pessoas, limitando-as pelo medo ou pela incapacidade em assumir, contundentemente, a própria identidade. Passa pelo radicalismo de crer sobre o próprio saber e pela incoerência de não manifestar a devida consciência sobre o conhecimento adquirido. Morrer, em doses homeopáticas, é aninhar-se ao berço do radicalismo e da ilusória sensação das verdades absolutas, tornando-se impermeável, as possibilidades que o novo oferece. É pré-conceber, julgando ao outro e aos acontecimentos a as volta, como se incorporar-se a um próprio Deus, onipotente e onipresente às vidas que não lhe pertencem. A morte de cada dia está presente no ignorar da caridade em detrimento ao isolar-se em prol da estabilidade temporária. Morrer é acreditar que ama sem a adoção de uma conduta coerente e livre de qualquer tipo de interesse recíproco. É afundar-se nas próprias emoções, tornar-se prisioneiro do pensamento e robotizado pelas ações que, legitimamente, não pertencem ao que se está e o que é. Assim, morrer é acreditar, veementemente, que é um estado fim, ou, o grande recomeço de tudo.

É comum aos indivíduos adotarem para si, atitudes suicidas e homicidas. As primeiras ditam sobre os comportamentos que agem contra si mesmos e a segunda contra os outros, aqueles que os cercam dentro da rotina. Para a constatação disso, não é preciso ser especialista, basta viver e conviver, observando as posturas e aquilo que fazem e sentem. E isso que determina o tempo e o lugar para a morte, ou seja, em qualquer momento e lugar. Viver, verdadeiramente, está contido naquilo que se é, pela busca constante e incansável pela coerência entre o que se pensa e o que se faz. É permitir-se errar, experimentando o caminho para o acerto, afastando-se do que não é saudável e rumando para a ordem salutar do bem viver privado e coletivo. Enfim, a vida se resume a um eterno continuar, não há fim e nem recomeço. Tão somente uma obra inacabada que amplia-se, sem que a necessidade de reformas se faça presente, sempre, seguidamente, equivocadamente. 

Fonte: http://filosmitosritos.wordpress.com/

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