Em “O Livro dos
Espíritos”, questão nº 1, Allan Kardec indaga aos Espíritos: “Que é Deus?” Eles
responderam: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as
coisas”.
Em pesquisa publicada
pela Revista Veja (edição 10489) revelou-se que 99% da população brasileira
acredita em Deus.
Tal verdade causa
certa estranheza. Como os adúlteros, os assassinos, os assaltantes, os
desonestos, os egoístas, os maledicentes, os mentirosos, os prepotentes, os
violentos, os agressivos, todos os que se comprometem com o mal, constituem bem
mais de um por cento da população, chegamos à conclusão de que essa gente toda
é o que é, não obstante acreditem em Deus.
Em sua epístola universal,
o apóstolo Tiago (2, 19) diz que o diabo (o Espírito mau) também crê em Deus, e
até o teme. Nem por isso deixa de fazer diabruras.
Mesmo convicto de que
o demônio não existe como ente personificado, é fácil entender o porquê desta
contradição. A presença de Deus no Universo é algo muito vago para o homem
comum, às voltas com seus problemas e interesses.
A própria Justiça
Divina, tão decantada pelas religiões, não impressiona suficientemente, a ponto
de conter seus impulsos desajustados.
É como o motorista
que tem conhecimento da existência de um código de trânsito. Sabe que há multas
pesadas para os infratores, mas não se sensibiliza. A fiscalização é precária,
distante.
Ao longo da história
tem acontecido coisa pior. Nas cruzadas, em nome de Deus, os cristãos da Europa
dizimaram populações imensas, com a piedosa intenção de libertar o solo sagrado
da Palestina.
Devemos isso às
religiões, que quase sempre cultivam concepções antropomórficas de Deus.
Um Deus à imagem e
semelhança do homem, como um soberano celeste a governar o universo, com algo
das paixões e limitações que caracterizam o comportamento humano.
Um Deus tão impotente
e limitado que, em determinado momento, como está na Bíblia, arrependeu-se de
ter criado o homem e até pensou em acabar com a raça humana.
Deus está morto –
proclamou o filósofo Nietzsche.
Referia-se ao deus
pessoal, antropomórfico, o soberano celeste distante e inacessível.
Por isso as pessoas
acreditam em Deus – é intrínseco no homem o sentimento do filho que intuitivamente
admite a existência do pai que o gerou – mas não conseguem viver como seus
filhos. Falta-lhes esclarecimento e motivação, totalmente ausentes nas
fantasias que lhes são oferecidas. Em face dessa precariedade de ideias, muitos
se desesperam e perdem a fé na Providência Divina, ao enfrentar tragédias
pessoais que envolvem a morte de familiares, a doença, a perda dos bens
materiais, as injustiças humanas etc.
Onde está Deus, que
não nos atende? Que não satisfaz nossas necessidades? Que não resolve os nossos
problemas? – perguntam esses crentes desiludidos.
É aqui que entra o
Espiritismo, propondo uma visão diferente.
Deus não é o soberano
celeste, distante, inacessível, que tem preferências, insensível às dores
humanas.
Deus é a mente
criadora, a inteligência cósmica que criou o Universo e sustenta a vida,
preparando todos os seus filhos para uma gloriosa destinação.
Num ato de amor,
criou-nos à sua imagem e semelhança, dotando-nos do poder criador, que está
presente em nossas iniciativas e se realizam em nossas ações. Somos, por isso,
senhores de nosso destino.
Todo o bem ou mal que
nos atinja será sempre a consequência do bem ou mal que houvermos praticado.
O confrade Sílvio de
Melo, já desencarnado, costumava dizer que, se o malandro soubesse como é
importante ser bom em favor da própria felicidade, ele seria bom por
malandragem.
Certíssimo! A suprema
esperteza está em praticar o Bem, já que é da lei que colhamos todo o bem que
semearmos, tanto quanto o mal voltará contra nós quando o exercitamos. E isso
tudo ocorre no presente, não num futuro distante, remoto, na vida espiritual,
nem etéreo tribunal. O julgamento é instantâneo e permanente.
Somos julgados por
nossas ações a cada momento, em cada iniciativa, em cada pensamento cultivado,
colhendo sempre, inelutavelmente, o bem ou o mal viver, de conformidade com o
que fazemos.
É fácil constar isso.
Experimentemos, durante todo um dia, sem vacilar, o cultivo apenas de bons
pensamentos em nosso mundo íntimo, de bons sentimentos diante das situações, de
boas ações diante do semelhante. Por vinte e quatro horas proponhamo-nos a
superar os interesses imediatistas, a ajudar a quem precisa, a colaborar com o
colega de trabalho, a respeitar as pessoas, a não falar mal de ninguém, a ajudar
o próximo, a perdoar ofensas...
Durante mil,
quatrocentos e quarenta minutos, comportemo-nos como filhos verdadeiros de
Deus, o Pai de infinito amor e misericórdia que, como ensina Jesus, faz nascer
o sol para bons e maus e descer a chuva sobre justos e injustos.
Passemos um dia assim
e, à noite, na hora de dormir, experimentaremos abençoada tranquilidade e
dormiremos o sono dos juntos. Será tão bom que desejaremos agir assim em todos
os dias de nossa vida.
Pensemos nisso e
sejamos responsáveis por nós mesmos para sermos felizes.
Por
Edo Mariani
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