Sem o passo inicial, ninguém vence as
distâncias.
(Joanna De Ângelis)
*
O
título desta mensagem é intrigante.
Em
princípio, parece um contra-senso que alguém peça:
“Apaguem as luzes; quero ver!”
No entanto, vale a pena acompanhar com
atenção os argumentos do pensador que a escreveu, para entender que luzes são
essas que, apagadas, podem favorecer a nossa visão.
A mensagem foi escrita por um ilustre professor, e diz o seguinte:
A beleza da consciência não costuma se
mostrar no clarão das luzes que brotam do calor dos acontecimentos.
Assim como os olhos exigem alguma proteção para olhar diretamente em direção ao
sol, nossa razão pede a proteção do tempo para poder contemplar com serenidade
a verdade em todo o seu esplendor.
É preciso distanciar-se dos fatos, das
experiências vividas, para finalmente poder-se contemplar a beleza da verdade.
O tempo é o único colírio capaz de
limpar os olhos da nossa razão, com os quais realmente enxergamos.
É mister despir-se das ilusões,
miragens que não ocorrem apenas para os perdidos nos desertos de areia.
É essencial livrar-se dos falsos valores
que levam a julgamentos igualmente falsos; abandonar tolas crendices filhas da
angústia e do medo do desconhecido.
Existe ainda o perigo do deslumbre que
cega a mente e ilude nossa capacidade de julgar; a vaidade tola e a
megalomania, caminhos que levam a bezerros de ouro, à paixão pela conquista do
poder pelo poder, ou como forma de submeter o próximo.
Nossos olhos, muitas vezes, emprestam
lentes de narciso, capazes de distorcer nossa real imagem e os julgamentos que
fazemos dos nossos atos.
Só o tempo permite àqueles que dele
fazem bom uso, cultivando o saber e examinando a vida em profundidade, perceber
as coisas realmente importantes e belas.
Nós humanos, como as flores, os
pássaros e tudo que é vivo, temos um ciclo que se inicia com o nascimento, prossegue
com o florescer da maturidade e termina com a morte. Morremos todos, sem a
beleza ou o vigor físico; de nada adiantam nossas conquistas terrestres, todas
são fugazes.
Se algo for eterno, será apenas a consciência que adquirimos neste viver.
Esse enorme mistério da vida e da morte
é o mais tranqüilo, límpido e belo espetáculo ao qual nenhum outro se compara,
mas que só pode ser observado e compreendido com o tempo, com o passar do
tempo; esse é um privilégio reservado aos que usaram bem seu tempo de vida.
É contraditório, mas é preciso morrer
para se entender e vislumbrar toda a beleza da vida.
Daí, talvez, a sabedoria popular do
velho ditado que diz:
“Neste mundo, quem mais olha menos vê, quem não morre não vê Cristo”.
Acredito que, no ditado popular, a
palavra cristo significa “ter consciência do processo da vida”.
Se fôssemos capazes de menores ilusões
e maior consciência, certamente seríamos muito mais felizes.
Teríamos maior prazer no trabalho,
trataríamos o próximo com mais amor e respeito; seríamos mesmo capazes de
amá-lo, não por nossos interesses, mas sim por ele mesmo.
Não teríamos a maioria das nossas
preocupações, dormiríamos melhor, administraríamos melhor nossas energias e não
permitiríamos que tolas fantasias e angústias desnecessárias se apossassem de
nosso ser.
Viveríamos em paz, teríamos mais tempo
para as crianças, as flores e os pássaros.
Não necessitaríamos do consumo de
drogas ou de bens supérfluos, usaríamos nosso tempo e nossa energia para coisas
muito mais prazerosas; pensar e examinar a vida, livrar-nos de falsos valores,
fantasias e miragens, encontrar a essência da vida, ver com os olhos da alma.
Pense nisso!
Apague as luzes, dilate as pupilas da
alma, e veja.
Redação do Momento
Espírita.
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