Fé Racional

"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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A Umbanda não é responsável pelos absurdos praticados em seu nome, assim como Jesus Cristo não é responsável pelos absurdos que foram e que são praticados em Seu nome e em nome de seu Evangelho. Caboclo Índio Tupinambá.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Guardião



Ele lê rapidamente a placa na parede daquela casa:
Joga-se búzios, tarô, faço trabalho de amarração. Mãe Vera da Bahia.
Resolve entrar. Na ante-sala várias pessoas aguardavam para serem atendidas.
Uma moça de olhar triste e perdido. Um homem de gestos afeminados.
Uma senhora de idade avançada. Lá dentro do quarto penumbre luzes vindas de velas, sente o cheiro forte de defumação que não demora, invade a casa.
Observa os móveis. Realmente mãe Vera vive bem: aparelhos novos estão por toda a espaçosa casa. Uma jovem auxiliar preocupa-se em receber antecipadamente o valor da consulta. A moça de olhar perdido puxa conversa com a outra mulher. Sussurra que precisa amarrar um homem casado. Envolvera-se com ele no ambiente de trabalho e mesmo sabendo que é casado, possui filhos, acha precisa tê-lo a qualquer custo. Diz que já foi em vários terreiros falou com Exus e Pomba Giras que lhe recusaram o pedido.
Alegavam que ela não devia deixar um impulso, acabar com a vida daquele homem. Ainda segundo ele os Exus ponderaram que se tivesse paciência arrumaria alguém livre para amá-la com o desprendimento que merecia.
Nada disso a comove queria o tal homem casado e pagaria o que fosse preciso...
A mulher que a ouvia calada concordou com os argumentos usados.
Por sua vez disse que estava ali para acabar com sua vizinha, mulher nova e bonita que nunca havia lhe feito nada, ao contrário até tratava-a bem, mas ela não podia suportar a felicidade da outra. Pagaria dona Vera para matá-la na magia. O homossexual ouvindo a conversa resolve-se abrir:
Apaixonara-se por um homem e este embora nunca tenha destratado deixou claro que era noivo feliz e nunca iria se envolver com ele.
Sendo assim estava ali para que tal mãe de Santo amarra-se seu homem... Não notara a presença dele.
Em seu intimo está revoltado. Pois a tão poderosa mãe de Santo não passa de uma mulher inescrupulosa que usa a baixa espiritualidade para alimentar a ganância, a cobiça, o ódio nas pessoas.
Não percebe a tal mulher que ao fazer isso está apenas sendo como instrumento dos Kiumbas. Lá no quartinho alheia ao que se passara na ante-sala D. Vera acaba de atender mais um cliente.
Envolta pela fumaça e com todas aquelas velas acesas, além de várias imagens de Exus, a mulher de fato impressiona. Ela não está só: um grande Kiumba e seu séqüito estão ali prontos a usá-la e sugar as energias daquela gente que ela atende.
O Kiumba está feliz: lá fora mais vitimas. D. Vera também está, pois vai ganhar um bom dinheiro.
Não sabem e que terão uma grande surpresa. O homem que até então estivera ouvindo aquelas pessoas, pede licença para passar na frente, pois tem que viajar com urgência. Os três consulentes medem de cima a baixo, vêem que estão diante de alguém importante e resolve aceitar o pedido.
Ele entra no quarto, D. Vera sente o coração bater mais forte. Acha graça até daquele homem tão imponente estar em sua casa, hoje pensa ela, vai faturar alto. O Kiumba se alvoroça, percebe que aquele homem está olhando para ele. Mas como pode ser isso? E aí percebe ter cometido um erro enorme: o tal homem era um Exu de Lei. A força do Exu lhe envolve de tal maneira que ele sente sair dali com urgência. E assim faz: desaparece deixando só a mãe de Santo. Por sua vez D. Vera começou a tremer e soar frio.
Tenta chamar ajuda, mas a voz lhe falta. Pensa que o estranho irá ajudá-la, mas este se limita a olhar para ela sorrindo.
Diz então que chegava a hora dela pagar por prejudicar e enganar tanta gente. Mostra que a mediunidade é como Dom Divino e como tal deve ser respeitada e usada para a pratica do bem, nunca para enganarem, jamais para causar discórdia e dor.
Completei o sermão usando mostrando que é: um Guardião de Exu de Lei. D. Vera está embasbacada, não sabe o que fazer. Suas pernas não obedecem...
Exu aproxima-se dela e a medida que ele avança ela cai. Quando percebe seu espírito está ao lado do corpo.
Desesperada ela grita, tenta voltar, mas agora é tarde. Exu agarra fortemente. Neste instante os consulentes ouvem o corpo que cai.
Exu gargalha e some.
Não mentira: iria viajar em direção do vale das Sombras tendo ao lado mais uma futura hospede.
         Por Cássio Ribeiro

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